sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Aconteceu em Blumenau
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
[H.]
Eis que aqui chegamos, depois de tanto, depois de tudo. Olhamos nos álbuns de fotografia e, de repente: quem sou eu?
Venho apresentar-me, mas não porque eu queira. Mostrar-me escondida por um pseudônimo é cômodo. É paradoxal. Acima de tudo, é misterioso. Quem não conhece as façanhas já feitas por escritores e compositores que se mostravam por pseudônimos? É um misto de tempos após contratempos, fazendo com que o momento fosse propício à medida que a história se desenrolava.
Histórias boas ou ruins, bem ou mal escritas, dramáticas ou hilárias, sobretudo, despretensiosas são as que me formam. Hoje, sou uma; amanhã, mantenho a essência; depois, já serei outra. Nem frágil que desmonte, nem forte demais que não se adapte.
Desse jeito me mostro: querendo ser exatamente como sou, para ser levada além. Vinda não se sabe de onde, indo para um destino incomum. No trajeto, lágrimas; de felicidade e de tristeza, que se completam. Pedras no caminho foram vistas, logo após, retiradas. E apoderando-me delas, venho fazendo minha rua ladrilhada.
Maria Bonita [M.B]
Quem dera eu transpor nestas frases meus sentimentos a respeito de quem sou. Mas as palavras, outrora tão amigas, neste momento me parecem não compactuar com esta idéia. Para desvendar a pessoa que hoje sou, precisarei lhe contar de onde vim, por onde passei, com quem conversei, quem tocou meu coração e nele permaneceu e também aqueles que partiram depois de deixar uma pequena parcela de seu próprio ser.
E agora? Como me definir? Se é que palavras definem alguém, prefiro acreditar que não meus atos que me definem. Isso significa dizer que prefiro saber do uso que faço de minhas palavras do que delas em si.
Palavra, o fato de pronunciá-la acarreta numa força da qual a maioria das pessoas não consegue compreender. Sua palavra pode perturbar a paz, mas também, e felizmente, trazê-la ao coração de quem precisa. Inquietante saber que uma simples palavra pode ser o bater de asas da borboleta; isso lhe faz responsável pelo que pronuncia, isso lhe faz responsável por uma possível lágrima derramada, ou um belo sorriso esboçado. Qual a distância entre a lágrima e o sorriso? Talvez uma única palavra; talvez uma centena; talvez ela não esteja
Quem sou? Sou alguém impossibilitada - mesmo que por hora - de ver o mundo como ele é, sou alguém que olha o mundo do jeito que eu sou.
Flor do Cerrado
[L!]
Nos gritos que não foram ouvidos, ecoa a minha literatura de idéias. Ali, onde ninguém viu, eu estava. Restava, aos que não me observavam, fingir - e isso eles bem sabem! No vestíbulo, recluso, escrevia e ainda escrevo. Me atrevo a escrever. De modo solitário, muito solitário, me atrevo a escrever...
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Sobre o Cabra Manoel
Agradecimentos
A Travessa em Três Tempos é uma revista independente, isso significa dizer que não possuímos fundos de reserva próprios para impressão e, por conseguinte, publicação de nossa revista. Outro ponto a ser levantado é que este é um projeto de estudantes de História, e como já é bem recorrente no vocabulário popular: estudante é “tudo falido”; o que faz com que não disponhamos nossas pecúnias para tal projeto.
Nesse sentido, embasamos o setor financeiro, logo, publicitário de nossa revista na cota de xerox dos professores de nossa instituição. Os quais nos cederam de bom grado seu excedente de xerox ao findar do mês.
São esses professores que queremos agradecer, pela confiança, e pela gentileza de nos terem feito tal doação:
Prof. Edgar Garcia Júnior, Prof. Fábio Feltrin, Profa. Geysa, Prof. Luiz Felipe Falcão, Prof. Rafael Rosa Hagemeyer, Prof. Reinaldo Lohn, Profa. Sílvia Arend e Prof. Tito Sena.
Agradecemos também a paciência do Cica, para tirar as 770 cópias.
Nossa Travessa em Três Tempos
Aquela “rua de mão única” do andarilho de Benjamin dobrou a esquina e caiu na travessa Onde a possibilidade da experiência se alargou “no zúo de um minuto mito” pelo esbravejar de Riobaldo nos chapadões. Então a visão do andarilho clareou todas as palavras perdidas na rede do pescador. E toda linguagem, deu conta de nomear tudo, como Funes o memorioso não suportou e a narrativa tornou-se o único sentido da existência.
Sentido que se confunde no tempo e, por vezes, foge dele. Futuro, presente, pretérito; perfeito, imperfeito, mais-que-perfeito: verdade fora do tempo!
Insensatez perene, numa periodicidade recorrente de revistas, vistas e revistas, visitadas e revisitadas. Continuidade em um fluxo, como uma constante que perpassa conhecimento, que divide experiências que simbolicamente narra diferentes caminhos, diferentes travessas, outros planos, prismas, histórias em perspectivas.
Outros homens, mulheres, crianças; outras pessoas, animais, trecos; outros malandros escondidos, sujeitados a ter a cabeça nas nuvens e os pés no chão, como outros tantos, como a gente, como o clareamento na visão do andarilho, enrolando-se no fio da memória e na linha do tempo.
Três aprendizes, um bocado de palavras sem sentido, agregando outros aprendizes com diversos sentidos e outras palavras. O encontro se dá na travessa, regados à bebida amarela que traz memórias, micros, macros, estas, outras, aquelas, de antes, de agora, de depois; juntam-se, separam-se.
Assim vaga o andarilho à perder-se na travessa, aquela que mesmo fugindo do pensar esquemático da casa do andarilho se mantêm plena de pensar. Eis o mistério da “rua de mão única” desvendado pelo fluxo do narrar, visto da perspectiva dos olhos do flaneur, tão bem descrito por Baudelaire, visto de tantas outras perspectivas. Reside aí o mistério, do olhar, do pensar, do narrar. Abstrai-se da necessidade empírica do raciocinar, e se joga na via das palavras. Assim versões, diferenças, contrastes, se unem no propósito de desconstruir as teias da verdade única, da história única; tecidas à custa de séculos de visões unilaterais.
Nós aprendizes, rumamos até a travessa e lá despojamos nossos métodos, meticulosamente apreendidos. Livramo-nos desse peso, sem esquecer que somente aquilo que é caro pesa, para que possamos clarear o olhar, perceber novos olhares. Desfrutar dessa capacidade de idear do historiador, e se não do historiador, pelo menos do andarilho de Benjamim.
O que sois vós além de andarilhos vagando sem destino, até deparar-se com a travessa? Aquela entranhada na miscelânea de tempos: futuro, presente, pretérito. Aquela desvinculada da supremacia da verdade. Aquela repleta de pensar. Faço à vos um pedido, quando o mistério se apresentar: perceba-o.